26 October 2006

O crescimento do PIB

Quanto crescemos realmente. Os 2% que a imprensa divulga ou isso não reflete a realidade de melhoria de nossa qualidade de vida. (Artur)

Economistas calculam o crescimento do PIB pelo método da "soma de fatores de produção". Somam-se salários, juros, depreciação e aluguéis. Calculado dessa forma, crescemos somente 2,2% por ano no governo FHC.
Contadores e administradores preferem calcular o PIBcomo a soma dos produtos produzidos por milhares de empresas: geladeiras, televisões, livros etc. É muito complicado e por isso não é feito, mas espelha melhor o que o PIB deveria significar: o crescimento do bem-estar material.
Em 1994, quando a Telebrás era estatal, uma linha telefônica custava 2 000 dólares, pagos antecipadamente num plano de expansão com entrega incerta. Na época, somente 13 milhões de pessoas ricas tinham essa fortuna para gastar em telefones.
Com a privatização, uma linha passou a custar zero, e de lá para cá foram entregues 67 milhões de linhas entre fixas e móveis. Como os salários do setor permaneceram mais ou menos constantes, esse brutal aumento não aparece no nosso PIB, o que para os 67 milhões de brasileiros que agora têm telefone é um absurdo monumental. A 2 000 dólares cada uma, essas novas linhas, ao preço de 1994, representam um acréscimo do PIB de 402 bilhões de reais, ou 50 bilhões por ano, usando um dólar de 3 reais.
Para um PIB de 1,2 trilhão de reais, só o setor de telefonia acrescentou 4,1% de crescimento ao nosso PIB. Crescemos na realidade no mínimo 6,3% ao ano, não esses 2,2% das estatísticas oficiais. Mas nosso crescimento verdadeiro não parou por aí.
Exemplo 2. A Fiat, que produzia um Tempra por 36.000 reais, passou a fabricar três Uno Mille por 12.000. Segundo as estatísticas, o PIB da Fiat permaneceu igual, apesar de a empresa produzir três vezes mais. Para a ciência econômica, a "satisfação marginal" de andar no Uno Mille é um terço do prazer de andar num Tempra. Perguntem àqueles três que andavam a pé se concordam.
Exemplo 3. A grande queixa do empresariado é que está produzindo o dobro para ganhar a mesma coisa. Tem muito advogado, médico e consultor dizendo o mesmo. A produção dobrou, mas os preços caíram pela metade, permitindo a muita gente comprar o que antes era impossível. Isso aconteceu nos setores de aviação, automobilístico, farmacêutico, eletrodoméstico, eletrônico, de bens de consumo em geral.
Basta ver os índices de inflação de bens duráveis, que caíram pela metade (essa queda não gerou deflação porque os preços públicos mais que dobraram, para fazer a mesma coisa).
Exemplo 4. Parte do aumento do padrão de vida do brasileiro se deve a um novo fenômeno que nunca existiu. Refiro-me à internet grátis, informação grátis, notícias grátis, e-mail grátis, livros eletrônicos grátis, softwares grátis, musica grátis e voluntariado, áreas que cresceram 20% ao ano e que não se refletem no PIB.
Exemplo 5. Com técnicas como Qualidade Total, a durabilidade dos produtos aumentou. Um produto que dura quatro anos e passa a durar seis representa 50% a mais na riqueza nacional, mas não no PIB.
Calculando o PIB corretamente, devemos ter crescido no mínimo entre 4,5% e 8,2% (dependendo do ano), o que é muito acima dos 2,2% ao ano publicados pelo governo FHC.
Fernando Henrique Cardoso entrará para a história como o presidente que em oito anos não conseguiu promover o crescimento. Nem ele nem seu ministério sabem que o Brasil cresceu, e muito, tanto é que nem usam esse fato para ganhar a eleição. O que é muito louvável, pois esse crescimento não pode ser mérito do governo, que nem tem idéia do que ocorreu. E sem conhecer a nova dinâmica de crescimento empresarial fica difícil descobrir como criar empregos, a maior falha de FHC.
O pior é que ninguém fica sabendo quanto o Brasil cresceu nesses anos. Por isso somos vistos como um enorme fracasso, aqui e lá fora. Por isso ninguém mais investe, e o risco Brasil está nas nuvens.
Como todos os candidatos, ouvindo seus Ph.Ds., prometem fazer o país finalmente "crescer" invertendo o rumo da economia, pela lógica isso significa que pararemos de crescer ou cresceremos bem menos no futuro próximo.
Alguns leitores escreverão para dizer que nossas estatísticas oficiais estão corretas. Por isso, peço que devolvam os 67 milhões de linhas telefônicas, os carros populares, apaguem de seus computadores as músicas em MP3 e cancelem seus e-mails, para que possamos ajustar a realidade à teoria.

Stephen Kanitz - Artigo Publicado na Revista Veja, edição 1769, ano 35, nº 37, 18 de setembro de 2002.

25 October 2006

Voto no Lula, de novo

Governar é construir estradas. Governar é varrer a corrupção, ou acabar com os marajás. São algumas promessas eleitoreiras, vencedoras e não cumpridas de nossos antigos candidatos e presidência da pátria amada.
Os presidentes militares não precisaram prometer nada.
Tem candidato atual prometendo investir todo o dinheiro da corrupção em beneficio do povo. É uma dinheirama calculada em 4,5 bilhões. Tá bom candidato, os corruptos concordam em perder essa boquinha?
Acabar com a miséria, mais emprego, mais casa, mais escola, mais saúde, mais transporte, mais lazer. Esse é o kit do candidato. Qualquer candidato. De síndico a presidente de qualquer coisa.
Depois de eleito o negócio é colocar a plaquinha de inauguração em lugar bem visível, em um montão de obricas, obrinhas, obras, e se possível obronas. Muitas estradas, escolas, hospitais, mais escolas. Qualidade na escola, bom atendimento hospitalar, manutenção da estrada. Bom, ai não dá para colocar plaquinha, é tocar do jeito que der.

Brasil, 180 milhões de cidadãos. Cidadãos de primeira classe, poucos, de segunda, pouquinho mais, de terceira, quarta, etc., muitos, muitíssimos. Na áfrica, no oriente médio, as tribos, ou etnias mais fortes subjugam as mais fracas, lei do mais forte. Não é assim que funciona na nossa terra. Na índia as classes sociais, mais conhecidas como castas, milenares. Nascer miserável, é morrer miserável. Nascer na classe abastada, é morrer mais abastado ainda. Quase igual a nós brasileiros. Não somos tribais, nem apartados por castas. Somos miseráveis, socialmente, culturalmente e economicamente. A fome, a miséria absoluta de muitos convivendo com o bem estar de poucos.

Manda muito quem tem rádio, tv, jornais, revistas, grana, boa escola. Gente de bem. As verdades dessa gente são inquestionáveis, aliás, que Zé ninguém tem competência para questioná-las. Desde 1500 é assim no Brasil.
É preciso quebrar esse paradigma, dentro das regras da “gente de bem”. Como?
Esse paradigma é quebrado aqui, e ali. Evo Morales, Chaves, Fidel, Stalin. O popular no poder a elite na cadeia ou na chiadeira. As armas ganham as ruas. Impera o radicalismo, ódio, intolerância. A história ensina: isso não dá certo. Tirar dos ricos para dar aos pobres não deu certo em nenhum lugar da história.

A história abriu uma janela no tempo para que alguém de forma diferente, dentro da lei, da ordem constituída, tentasse quebrar o paradigma da pobreza endêmica em nossa terra.
Lula foi eleito presidente do Brasil em 2002. Se elegeu obedecendo ao kit de promessas de qualquer político. Sua história política apavorava a elite pensante, mas, a história já tinha decidido, era hora de alguém vindo das classes inferiores sentar-se na cadeira presidencial.
Ganhou, assumiu, governou. Ganhou com uma votação expressiva, assumiu em uma grande festa cívica, governou sob forte desconfiança dos patrões, da classe média, da imprensa. Governou respeitando e atendendo os interesses das classes dominantes. Acharam pouco, querem mais, mais e mais.
Governou, olhando no olho do mais pobre, procurando atender sua necessidades. Primeiro reduzindo a fome de parcela significativa da população com obrigatoriedade de vacinação e de freqüência escolar dos menores de idade. Uns acham que é assistencialismo tosco, outros, paternalismo demagógico. Seria o caso de se perguntar a quem tem fome se ele gostaria de receber comida demagógica, assistencialista ou não. Paralelo a isso, democratização e barateamento de crédito descontado em folha, forte investimento no credito agrícola familiar. Investimento na Saúde preventiva popular, implantação de atendimento odontológico. Investimento no acesso do mais pobre a universidade.

Errou, fez besteiras. Delegou e confiou em quem não devia. Uns acham que foi uma praga de gafanhotos que devastou nossas terras por gerações. Outros acham que errou tanto quanto qualquer político incompetente, e que seu governo não cheirou nem fedeu. Tem aqueles que acham que finalmente tiraram do armário as falcatruas que sempre existiram, e que a polícia não estava aparelhada para combater. Outros ainda acham que fez mais do que prometeu e que começou a quebrar o paradigma da pobreza endêmica.

Faltam 4 dias para o dia da votação. As pesquisas dão 21 pontos de vantagem para Lula. As elites pensantes, a imprensa, estão em cólicas, dizem que o Brasil não agüenta mais 4 anos de Lula, etc., etc. Parece uma corrente do mal. Banqueiros, (ganharam muito) industriais, (ganharam bastante), profissionais liberais, classe média (correção da tabela do IR). Foram tratados a pão e água pelo FHC, tiveram sua grana confiscada pelo Collor. Só pode ser o poder demolidor da imprensa.

Lula está sendo votado maciçamente pela classe popular.

PS. Vi o olho brilhando de várias pessoas bem humildes ao declararem que votariam no Lula com a graça de Deus e muita fé de que a maioria do povo brasileiro iria melhorar ainda mais. E que ele sendo de origem humilde entendia realmente as necessidades mais simples do mais pobre.

24 October 2006

Grandes interesses em movimento

Acho que todos nos, brasileiros estamos tentando escolher o melhor candidato a presidência para o Brasil.
Não acho que o povo, o coletivo seja egoísta, ladrão, mal intencionado, picareta, fdp. Acredito que o coletivo escolhe sempre a melhor opção disponível, aquele que possa atender as necessidades do país no momento histórico.
O grande erro é que essa escolha seja resultante de uma grande conspiração. Um imediatismo qualquer. Um acidente armado pelos maus perdedores. Um fato relevante de momento que não tenha a mínima importância no tempo, na história.
Imaginem se descobrem uma amante Argentina para o candidato melhor colocado nas pesquisas, na véspera da eleição. Amante verdadeira ou falsa. Que importância política, social isso pode ter. Nenhuma. Mas pode mudar o rumo da eleição.
O candidato pode ficar melhor ou pior no filme ao sabor da competencia do marqueteiro de plantão. Da esperteza momentânea. A fragilidade da democracia é muito grande, e nessa guerra de forças políticas a primeiras vítima é a verdade.
Ao povo cabe tentar enxergar a alma de cada candidato, tentando achar o que há de sinceridade, verdadeiro, duradouro em cada um, e principalmente qual deles atende os interesses imediatos da clientela. Qual tentará realizar a demanda história do momento.
Tancredo Neves, dizia que política é como nuvens, cada vez que você olha elas estão diferentes.A sabedoria é tentar olhar alem, é nisso que acredito que o coletivo na maioria das vezes consegue.