15 February 2007

Quanto vale um Oscar

Bate papo com o Oscar. Um cara antigo, quase 100 anos, com ideias antigas. sabedoria antiga. Desenhista antigo. Esse Oscar não vai ficar velho nunca. Tem defeito: é comunista escancarado desde criancinha. Ninguem é perfeito. Sou fã de carteirinha do cara. Acompanhe o texto abaixo publicado na coluna do Dirceu.

No dia 18 de janeiro deste ano, 2007, o gênio da arquitetura brasileira, Oscar Niemeyer, abriu seu apartamento no Rio de Janeiro, em Ipanema, bairro da zona sul carioca, para uma extraordinária conversa. Menos do que uma entrevista, foi, na verdade, um generoso bate-papo. O arquiteto, de 99 anos, responsabiliza a elite nacional «ignorante e predatória» pelos graves problemas sociais do país e diz que pretende criar um instituto para oferecer formação cultural e educacional de alto nível às novas gerações. Para ele, lê-se pouco, quase nada, no Brasil. «O sujeito cresce na profissão, mas não toma conhecimento da vida».
E o que Niemeyer espera do brasileiro? «É o sujeito saber que existe gente, que existe miséria, que ele se sentiria melhor, se conhecesse melhor o mundo e tivesse prazer em ajudar os outros». Ensina, ainda, que é preciso ter «uma opinião, e ter força para defender as coisas que considera mais importantes para a caminhada sem destino do ser humano».
Desse momento privilegiado, em que se falou do Brasil, dos jovens, de educação, de história, de filosofia, de esperanças, participaram dois grandes amigos do arquiteto -- o jornalista e editor Renato Guimarães, que publicou «Conversa de amigos – correspondência entre Oscar Niemeyer e José Carlos Sussekind» (Revan, 2002), e o advogado Marcelo Cerqueira – que, aliás, revelou-se um inesgotável contador de casos.
A conversa – de três horas -- foi editada por temas para melhor aproveitamento dos leitores. E alguns dos saborosos episódios contados pelo mineiro Marcelo Cerqueira, além de observações e relatos do próprio Niemeyer sobre seus contemporâneos ou a vida, serão publicados no blog ao longo dos próximos dias, na série que se decidiu intitular «Na casa de Oscar Niemeyer». Envolvem personagens como Darcy Ribeiro, Gustavo Capanema, João Saldanha.

Habitação na periferia

«Eu acho que o problema vem à tona, quando o governo está interessado, preocupado com a miséria e o uso de drogas. Aí, o problema da habitação aparece logo: gente sem casa, explorados, os garotos pendurados nas favelas, com a polícia correndo atrás deles a noite inteira, e crescendo assim, revoltados. De modo que o grande problema é o da miséria, mais os problemas levantados pela burguesia, que é ignorante e é predatória. O problema da pobreza e da favela é social. O pessoal grã-fino vê os 'pretinhos da favela' como futuros inimigos. Mas eles são gente, são seres humanos, crescem revoltados. De modo que eu acho que isso (a baixa qualidade dos projetos arquitetônicos para programas habitacionais nas periferias) é um desprezo pela miséria.»

Lula

«Tem que mudar o regime, esse é um regime de merda. Quando o Lula queria ser o presidente do Brasil, achava-se que o lado bom dele era o operário, conhecendo a vida dos mais pobres. Mas que ele não era político, não se interessava pela esquerda, e queria melhorar o capitalismo. Mas (o capitalismo) é o grande motivo (dos problemas sociais), tem que acabar com o capitalismo, não dá nada para melhorar. De modo que, quando ele começou a questionar, eu comecei a sentir que ele era esperto, que ele estava ligado ao movimento para a América Latina. (...) Bastava ele se interessar pelo problema da América Latina, bastava isso para justificar ele ser o presidente do Brasil. O resto é o lado humano dele, de se interessar pelo povo.»

Ler, ler, ler

«O que eu acho ruim é que o homem brasileiro não tem uma formação organizada. O sujeito se transforma em especialista ou em um médico fantástico, e nunca leu um livro. Nós não estamos fazendo um trabalho, agora, de intervir nessa fase da juventude. O sujeito cresce na profissão, mas não toma conhecimento da vida. Não é o self-made man dos americanos, que basta ser o vencedor, mas é o sujeito saber que existe gente, que existe miséria, que ele se sentiria melhor, se conhecesse melhor o mundo e tivesse prazer em ajudar os outros.
«Um dia, umas estudantes vieram em grupo me visitar. Então, uma delas perguntou para a outra: '_Você já leu Eça de Queiroz?' E ela disse: '_É a filha da Raquel de Queiroz?' Não leram nada. De modo que falta leitura. Tem um colega meu, um rapazinho modesto, trabalha aqui comigo, ele queria ser arquiteto e não tinha dinheiro. Então, eu pago a universidade, mas ele é obrigado, de dois em dois meses, a ler um livro e falar sobre a obra.
«Esse rapaz aprendeu, está mais interessado em ler. O que falta é isso. Não precisa ser um intelectual, não. Mas, nos assuntos principais, tem que ter uma opinião, e ter força para defender as coisas que ele considera mais importantes para a caminhada sem destino do ser humano.»

A vida é mais importante

«Tem um rapaz, engenheiro, que vem aqui toda sexta-feira dar aula de filosofia. A gente aprendeu a primeira coisa -- que a Terra é um planetinha insignificante, longe de tudo, é um mero bichinho, a evolução da espécie e tudo. Esses princípios, de uma maneira muito vaga, o jovem tem que aprender desde a pré-escola, porque, no fundo, não somos nada ainda. A vida é mais importante, a vida pode mudar as pessoas ou não mudar nada. Colocar-se um sujeito na rua berrando contra o governo, contra o capitalismo, eu acho o trabalho dele mais importante do que o berro.
«(...) Quando o homem sentir que ele apareceu por acaso, que não tem importância, que a vida é um sopro, é um minuto, e que ele não tem que pensar que é importante, mas tem que pensar que é simples e que gosta das coisas boas... É tão mais simples, se você se considerar de passagem, que é um sopro, é um momento. O homem seria mais simples. Uma vez o 'Pasquim' falava da vida: 'Mulher do lado e seja o que Deus quiser'. E é mesmo um povo egoísta.»

Militares e patriotismo

« Esse defeito de julgar que nós temos eu acho uma merda. Quem é que pode julgar? O Lula é um guerreiro. Eu, hoje, dou muito mais importância aos militares. Outro dia, me chamaram para receber uma medalha dos bombeiros. Eu disse '_ tenho que ir lá', e fui. «Vendo eles marchando, senti o que é ser patriota. Hoje, nem falam da pátria. Por isso, os militares fazem todas as revoluções, como fez o Chávez (Hugo Chávez, presidente da Venezuela), que ajudou as pessoas, no país, a lutarem por coisas melhores. A formação militar, é raro ter; o ruim é que nós mal conseguimos levar o novo pensamento. Faltou leitura também. Mas, quando a coisa fica feia, aparece um guerreiro.»

Brizola

Brizola «(...) E o Brizola. Brizola é outro (além de Lula) que foi um guerreiro. Como ele faz falta.»

Um instituto para os jovens

«Tem que brigar, o mundo é horrível, o mundo capitalista. Nos Estados Unidos, você estuda e quer ser um vencedor, ter dinheiro. Nós queremos fazer um instituto, e a base é essa: um curso de três meses, o sujeito vai aprender, vai ler, vai discutir, vai se informar de uma maneira presencial. Vai ser uma pessoa que entende o mundo em que vive e o que é preciso fazer. Não é pessimista, mas é realista. A vida é cheia de beleza e de encanto, mas é cheia de dramas também.
«(...) A maneira de organizar, não sei se é um órgão, uma coisa junto às universidades. Para o jovem receber uma informação mais exata da vida do homem, da luta política, das idéias, que precisa defender o país, que o país é importante.»

Bush

«(No Iraque), ele está tentando encontrar uma saída, inventar qualquer coisa que emocione outra vez o povo americano. Inventa lá um drama qualquer maior.»

Hugo Chávez

«Ele disse que vem amanhã (a conversa aconteceu na véspera da visita do presidente Hugo Chávez, a Niemeyer). Eu não conheço ele, não. Uma vez, teve um encontro com ele e me chamaram, mas demorou demais, ele estava atendendo o Lula num almoço.» (Niemeyer mostra, então, a carta calorosa que recebeu do presidente Hugo Chávez).

Escolas X presídios

«Outro dia, me telefonaram: tinham falado com o governador de Brasília, se ele podia fazer uma série de delegacias pelo Brasil. Como o Darcy (Darcy Ribeiro, idealizador dos Ciep's- Centros Integrados de Educação Pública, no governo de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro) quis fazer as escolas, iam fazer delegacias. Ele me disse: '_Não delegacia mal-feita, mas coisas bonitas. O senhor quer fazer o projeto?'.
«Fazer delegacia? Ver os sujeitos presos lá dentro de um projeto que eu desenhei? É de mal gosto. Lamentável. Ele não quer fazer escola, que é útil, que o Darcy inventou e o Brizola fez com muito entusiasmo. Imagine se eu ia fazer um presídio.»

Jango, França, Argélia

«Eu acho que, agora, é um momento de esperança. Tudo muda, vai e vem. Eu andei pela Europa logo depois da guerra, mas não fui depois do golpe, fui antes, tinha que fazer um trabalho. Eu me lembro que estava conversando com o Darcy (Ribeiro), e ele me disse: '_Estamos no poder'. Era o tempo do Jango (João Goulart). Um mês depois, ligo a televisão, estouraram o homem. Mas eu senti que havia um sentimento de solidariedade com o pessoal que ia para fora, eles procuravam ser amáveis. Lembro que, na França, o De Gaulle (Charles De Gaulle) criou logo o decreto para poder se trabalhar na França. A gente sentia também na Argélia, onde havia o (Houari) Boumedienne, que foi o chefe do Exército, gente boa, até hoje é meu amigo. Ele estava na França, era do Partido Comunista Francês, mas era argelino. Então pediu cidadania para o Partido francês, alistou-se no Partido argelino e fez a guerra contra a França. Ele e a mulher foram maltratados, foi terrível o que eles passaram. Outro dia, chegou uma senhora francesa que esteve na mesma cela que a mulher dele. Ele estava no Rio, eu o chamei. Foi um encontro emocionante.»

06 February 2007

E agora sr. josé ?

Situação complicada, sr. josé.

Vai ser publicada e pronto.
Eu combinei, está combinado.

Mas, sr. josé o que ganhamos com isso?
Para que serve isso?

Quero que publica.
Assinei, está assinado


Mas, sr. josé que utilidade tem para nossa clientela?
Que qualidade tem esses dados, são atuais, são corretos?
Alguns deles estão em nossa lista confirmados com outros nomes
O sr. já viu alguem esperando uma ligação em tel. público.
Uma fila para receber outra para ligar.

Eu decidi, está decidido.

Sr. josé o sr. está gritando.
Exaltado.
Não campto a lógica da argumentação.

Estamos acostumados a tomar decisões baseadas na força bruta dos argumentos racionais, lógicos, não na força bruta dos argumentos do “eu quero”.

Em um mundo brasileiro de 100 milhões de celulares, fazer lista de telefones publicos cheira a organizações tabajara. Os seus problemas acabaram, use nossa lista de telefones publicos para se comunicar com seu comercio predileto, seu amigo, sua comadre fofoqueira...

Sr. josé esse probleminha não vai se resolver na base do “eu quero”, “vai ser assim”. Isso não faz parte da nossa cultura, mesmo porque se fizesse não estariamos estrupiados só nos braços...

Um luz: Um anúncio de página inteira com o título TELEFONES PUBLICOS ... Essa página entraria em lugar indeterminado. Quem sabe desse jeito fica preservado o seu “eu quero” e o meu “assim não pode, assim não dá...”

Que deus nos proteja dos maus humores e dos maus odores...

02 February 2007

Você tem experiência?

Em um processo de seleção da Volkswagen, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta:

"Você tem experiência?"

A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos. Ele foi aprovado e seu texto está fazendo sucesso. Com certeza, será sempre lembrado por sua criatividade, sua poesia, e acima de tudo, por sua alma.

REDAÇÃO VENCEDORA:
"Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela.
Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho e até já brinquei de ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista.
Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone.
Já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuei andando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer.
Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda.
Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro,
Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante.
Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.
Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.
Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.
Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade.
Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração.
E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita:
Qual sua experiência?'. Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência, experiência...
Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência?
Não!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!
Agora, gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta:
Experiência? Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?"

A poligamia e suas vantagens

Sheikh Abdu Osman

A poligamia é uma prática muito antiga, encontrada em muitas sociedades humanas. A Bíblia não condenou a poligamia. Pelo contrário, o Velho Testamento e os escritos rabínicos freqüentemente atestam a legalidade da poligamia. Dizem que o Rei Salomão teve 700 esposas e 300 concubinas (Reis 11:3). Também o Rei Davi teve muitas esposas e concubinas (2 Samuel 5:13). O Velho Testamento tem algumas injunções em como distribuir a propriedade de um homem entre seus filhos de diferentes mulheres (Deuteronômio 22:7). A única restrição com relação à poligamia é a proibição de tomar uma irmã da esposa como uma esposa rival (Levítico 18:18). O Talmud aconselha a um máximo de 4 esposas. Os judeus europeus continuaram a praticar a poligamia até o século XVI.
Os judeus orientais praticavam a poligamia regularmente até a chegada a Israel, onde ela foi proibida por lei. Contudo, na lei religiosa, que sobrepuja a lei civil em tais casos, a poligamia é permitida .
E com relação ao Novo Testamento? De acordo com o padre Eugene Hilman, em seu penetrante livro, a poligamia é reconsiderada, "Em parte alguma do Novo Testamento há uma orientação expressa de que o casamento deve ser monogâmico ou qualquer orientação que proíba a poligamia". Além disso, Jesus não falou contra a poligamia, embora ela fosse praticada pelos judeus de sua época. O padre Hillman chama a atenção para o fato de que a Igreja de Roma proibiu a poligamia, a fim de se adequar à cultura Greco-romana (que prescrevia somente uma esposa legal, enquanto que tolerava o concubinato e a prostituição). Ele citou Santo Agostinho, "Agora, em nosso tempo, e de acordo com o costume romano, não é mais permitido tomar uma outra esposa". As igrejas africanas e os cristãos africanos muitas vezes lembram a seus irmãos europeus que a proibição da poligamia é mais uma tradição cultural do que uma autêntica injunção cristã.
O Alcorão também permitiu a poligamia, mas não sem algumas restrições: "Se vós temeis não serdes capazes de conviver justamente com os órfãos, casai com mulheres de sua escolha, 2 ou 3 ou 4 vezes; mas se temerdes que não sereis capazes de conviver justamente com elas, então casai somente com uma" (4:13). O Alcorão, ao contrário da Bíblia, limitou o número de esposas a 4, sob a estrita condição de que as esposas sejam tratadas igualmente. Isto não deve ser entendido como uma exortação a que os crentes pratiquem a poligamia, ou que a poligamia seja considerada como um ideal. Em outras palavras, o Alcorão "tolera" ou "permite" a poligamia. Por que a poligamia é permitida? A resposta é simples: há lugares e épocas em que razões morais e sociais compelem para a poligamia. Como os versos do Alcorão acima indicam, a questão da poligamia no Islã não pode ser entendida como parte das obrigações da comunidade com relação aos órfãos e viúvas. O Islã, como uma religião universal, aplicável para todos os lugares e tempos, não poderia ignorar essas pressões.
Em muitas sociedades humanas, as mulheres superam os homens em quantidade. Em um país como a Guiné, há 122 mulheres para cada 100 homens. Na Tanzânia, há 95,1 homens para 100 mulheres . O que uma sociedade deve fazer para resolver esse desequilíbrio? Existem várias soluções, e alguns podem sugerir o celibato, outros preferem o infanticídio feminino (que ainda acontece no mundo de hoje em alguns lugares). Outros, ainda, podem achar que a única saída é a sociedade tolerar todas as formas de permissividade sexual: prostituição, sexo fora do casamento, homossexualismo, etc. Para outras sociedades, como a maior parte das sociedades africanas de hoje, a saída mais honrosa é permitir o casamento poligâmico, como uma instituição culturalmente aceita e socialmente respeitada. A questão, que é muitas vezes incompreendida no ocidente, é que muitas mulheres de outras culturas necessariamente não vêm a poligamia como um sinal de degradação da mulher. Por exemplo, muitas jovens noivas africanas, sejam cristãs ou muçulmanas, prefeririam se casar com um homem casado, que tenha provado a ele mesmo, ser um marido responsável.
Muitas esposas africanas persuadem seus maridos a tomar uma segunda esposa e assim eles não se sentem sozinhos. Uma pesquisa realizada na segunda maior cidade da Nigéria com 600 mulheres, com idades entre 15 e 59 anos, mostrou que 60% dessas mulheres não se importariam que seus maridos tivessem uma outra esposa. Somente 23% expressaram raiva ante a idéia de dividirem seus maridos com outras mulheres. 76% das mulheres que se manifestaram numa pesquisa realizada no Quênia, viram a poligamia positivamente. Em outra pesquisa realizada no campo, 25 de 27 mulheres consideraram a poligamia melhor do que a monogamia.
Estas mulheres sentiram que a poligamia pode ser uma experiência feliz e benéfica se as co-esposas cooperarem umas com as outras. A poligamia, na maior parte das sociedades africanas é uma instituição tão respeitada, que algumas igrejas protestantes começaram a tolerá-la, "Embora a monogamia possa ser ideal para a expressão do amor entre o marido e a esposa, a igreja deve considerar que em certas culturas a poligamia é socialmente aceitável e que a crença de que a poligamia é contrária ao cristianismo não se sustenta por muito tempo". Depois de um cuidadoso estudo sobre a poligamia africana, o Reverendo David Gitari, da Igreja Anglicana, concluiu que a poligamia, como idealmente praticada, é mais cristã do que o divórcio e o novo casamento, porque há uma preocupação com as esposas e crianças abandonadas. Eu pessoalmente conheço algumas esposas africanas, finamente educadas, que apesar de terem vivido no Ocidente por muitos anos, não fazem qualquer objeção à poligamia. Uma delas, que mora nos USA, solenemente estimula seu marido a tomar uma segunda esposa para ajudá-la na criação das crianças.
O problema do desequilíbrio entre os sexos começa na verdade nos problemáticos tempos de guerra. Os índios nativos americanos costumavam sofrer com essa desigualdade de número entre homens e mulheres, principalmente após as perdas dos tempos de guerra. As mulheres dessas tribos, que na verdade desfrutavam de uma alta posição, aceitavam a poligamia como a melhor proteção contra a tolerância por atividades indecentes. Os colonos europeus, sem oferecerem qualquer outra alternativa, condenavam a poligamia indiana como "incivilizada" .
Após a segunda guerra mundial, havia na Alemanha 7.300.000 mais mulheres do que homens (3.3 milhões delas eram viúvas). Havia 100 homens na idade de 20 a 30 anos para cada 167 mulheres naquele mesmo grupo de idade. Muitas dessas mulheres necessitavam de um homem, não apenas como uma companhia mas, também, como um mantenedor para a casa, num tempo de miséria e injustiça sem precedentes. Os soldados do exército aliado vitorioso exploravam a vulnerabilidade dessas mulheres. Muitas jovens e viúvas tinham ligações com membros das forças de ocupação. Muitos soldados americanos e britânicos pagavam por seus prazeres com cigarros, chocolates e pães. As crianças ficavam felizes com os presentes que os estrangeiros traziam. Um menino de 10 anos, vendo esses presentes com outras crianças, desejava ardentemente um "inglês" para a sua mãe e assim, ela não precisaria passar fome por tanto tempo. Devemos perguntar para nossa consciência sobre esta questão: O que dignifica mais uma mulher? Uma segunda esposa, aceita e respeitada, ou uma prostituta virtual, como no caso da abordagem "civilizada" das forças aliadas na Alemanha? Em outras palavras, o que dignifica mais uma mulher, a prescrição alcorâmica ou a teologia baseada na cultura do império romano?
É interessante notar que, em uma conferência da juventude internacional, acontecida em Munique, em 1948, o problema alemão do desequilíbrio no número de homens e mulheres foi discutido. Quando ficou claro que não havia solução consensual, alguns participantes sugeriram a poligamia. A reação inicial da reunião foi uma mistura de choque e repugnância. Contudo, após um estudo cuidadoso da proposta, os participantes concordaram que a poligamia era a única solução possível. Consequentemente, a poligamia estava incluída entre as recomendações finais da conferência.
Atualmente, o mundo possui mais armas de destruição em massa do que jamais houve em qualquer tempo e as igrejas européias podem, mais cedo ou mais tarde, se ver obrigadas a aceitar a poligamia como o único caminho. O Padre Hillman, após muito pensar, admitiu este fato, "É quase concebível que aquelas técnicas genocídas (nuclear, biológica, química...) podem produzir um desequilíbrio tão drástico entre os sexos que o casamento plural poderia ser um meio necessário de sobrevivência... Em tal situação, os teólogos e os líderes das igrejas deveriam rapidamente produzir razões importantes e textos bíblicos que justifiquem um novo conceito de casamento".
Nos dias atuais, a poligamia continua a ser a solução viável para alguns males das sociedades modernas. As obrigações comunitárias a que o Alcorão se refere, juntamente com a permissão da poligamia, são mais perceptíveis atualmente nas sociedades ocidentais do que na África. Por exemplo, nos USA de hoje, há uma séria crise na comunidade negra. Um em cada 20 jovens rapazes negros podem morrer antes de atingir a idade de 2l anos. Para aqueles que estão entre os 20 e 35 anos, o homicídio lidera a causa da morte . Além disso, muitos rapazes negros estão desempregados, na prisão ou são viciados. Como conseqüência, uma em 4 mulheres negras, na idade de 40 anos, nunca se casaram, enquanto que este número é de 1 para 10 mulheres brancas . Além do mais, muitas jovens negras se tornam mães solteiras antes dos 20 anos e se encontram na situação de serem mantidas. O resultado final dessas trágicas circunstâncias é que há um aumento no número de mulheres negras comprometidas com "homem-partilhado". Isto é, muitas dessas infelizes mulheres negras solteiras estão envolvidas em casos com homens casados. As esposas muitas vezes não têm consciência do fato de que outras mulheres estão dividindo seus maridos com elas. Alguns observadores da crise do "homem-partilhado" na comunidade africana na América têm recomendado a poligamia consensual, como uma resposta temporária para a diminuição do número de homens negros, até que reformas mais abrangentes na sociedade americana sejam tomadas. Esses observadores entendem poligamia consensual como a poligamia sancionada pela comunidade e na qual todas as partes envolvidas concordem, em oposição ao segredo dos casos com homens casados, os quais sempre prejudicam tanto a esposa como a comunidade em geral.
O problema do "homem-partilhado" na comunidade africana da América foi ponto de discussão em um painel realizado na Universidade de Temple, na Filadélfia, em 27.01.93 . Alguns dos palestrantes recomendaram a poligamia como um remédio potencial para a crise. Eles também sugeriram que a poligamia não podia ser banida por lei, particularmente em uma sociedade que tolera a prostituição e o concubinato. O comentário de uma das mulheres participantes, de que os negros americanos precisavam aprender com a África, onde a poligamia era praticada responsavelmente, conseguiu entusiásticos aplausos.
Philip Kilbride, um antropólogo americano, de tradição católica romana, em seu livro provocativo, "Casamento Plural para o Nosso Tempo", propõe a poligamia como solução para alguns dos males da sociedade americana. Ele argumenta que o casamento plural pode servir como uma alternativa potencial para o divórcio em muitos casos, a fim de eliminar o impacto danoso do divórcio sobre as crianças. Ele afirma que muitos divórcios foram causados pelo excessivo número de casos extraconjugais ocorridos na sociedade americana. De acordo com Kilbride, transformar um caso extraconjugal em um casamento poligâmico, ao invés do divórcio, é melhor para as crianças. Além disso, ele sugere que outros grupos também se beneficiarão do casamento plural, tais como: mulheres mais velhas, que enfrentam uma crônica diminuição de homens e os negros americanos, que estão envolvidos com o "homem-partilhado".
Em 1987, uma votação conduzida por um estudante de jornalismo da Universidade de Berkeley, perguntava aos estudantes se eles concordavam que os homens poderiam ser autorizados, por lei, a terem mais de uma esposa, tendo em vista a visível diminuição do número de candidatos masculinos para o casamento na Califórnia. Quase todos os votantes aprovaram a idéia. Uma estudante chegou a declarar que o casamento poligâmico preencheria suas necessidades físicas e emocionais, porque lhe daria maior liberdade do que uma união monogâmica. Na verdade, o mesmo argumento foi usado por alguns poucos remanescentes das mulheres praticantes Mormom, que ainda praticam a poligamia nos USA.
Elas acreditam que a poligamia é um caminho ideal para a mulher ter, tanto profissão como crianças, uma vez que as esposas se ajudam umas às outras no cuidado com os filhos.
Deve-se acrescentar que a poligamia no Islã é questão de consenso mútuo. Ninguém pode forçar a mulher a se casar com um homem casado. Além disso, a esposa tem o direito de estipular que seu marido não deve se casar com outra mulher. A Bíblia, pôr outro lado, algumas vezes vale-se da poligamia forçada. Uma viúva sem filhos deve se casar com o seu cunhado, mesmo que ele já seja casado (ver a seção "A condição das Viúvas") e independente de seu consentimento (Gênesis 38:8/10).
Deve-se notar que, em muitas sociedades muçulmanas de hoje, a prática da poligamia é rara, uma vez que a diferença entre os sexos não é grande. Pode-se dizer que o número de casamentos poligâmicos no mundo muçulmano é muito menor do que o de casos extraconjugais no ocidente. Em outras palavras, os homens no mundo muçulmano são muito mais monogâmicos do que os homens no mundo ocidental.
Billy Grahan, o eminente evangélico cristão, reconheceu este fato: "O cristianismo não pode se comprometer com a questão da poligamia. Se hoje o cristianismo não pode fazer isso, é em seu próprio detrimento. O Islã permitiu a poligamia como uma solução para os males sociais e reconheceu um certo grau de latitude da natureza humana, mas, somente dentro da estrutura estritamente definida na lei.
Os países cristãos fazem um estardalhaço sobre a monogamia, mas, na verdade, eles praticam a poligamia. Ninguém ignora a existência das amantes na sociedade ocidental. A esse respeito, o Islã é fundamentalmente uma religião honesta, que permite a um muçulmano se casar uma segunda vez se ele precisar, mas proíbe rigorosamente todas as associações clandestinas, a fim de salvaguardar a probidade moral da comunidade".
Nota-se que a nova lei civil brasileira já admite a poligamia ao estabelecer a lei de concubinato onde estabelece direitos para tais amantes depois de provarem a existência de vê, como filhos ou tempo de convivência com homens já casados, isto na minha visão é uma poligamia não declarada e hipócrita.
Releva notar que muitos países no mundo de hoje, muçulmanos ou não, proibiram a poligamia. Tomar uma segunda esposa, ainda que com o livre consentimento da primeira, é uma violação da lei. Por outro lado, trair a esposa, com ou sem o seu conhecimento e/ou consentimento, é perfeitamente legitimada. Qual é a sabedoria legal por detrás de tal contradição? A lei foi feita para premiar a decepção e punir a honestidade? Este é um dos paradoxos fantásticos de nosso mundo "civilizado".

* Sheikh Abdelbagi Sidahmed Osman, natural do Sudão, nacionalidade brasileira, Imam da comunidade Muçulmana do RJ de 1993 e atual presidente desde 2000 representante da Liga Islâmica Mundial e da Organização Islâmica para América Latina no Brasil.